De tudo que por mim já passou, tu ficou. Mesmo com os ventos fortes no inverno e com a falta de horas do dia. Me ensinou que nem precisa de malas para viajar. Que existem um milhão de músicas para se ouvir e o trânsito é um bom lugar pra isso. Som alto, please. Me trouxe vidas e cenas inusitadas. Achou um parente alí na esquina, uma coincidência alí na outra. Me ligou quando estava nas pontes, quando não tinha sono e queria dormir. Guardou alguns cheiros e sobrou um espacinho pra se irritar com o cobertor. Com a meia calça. Contigo que vai jogar futebol. Vão te machucar, já falei. Falei? Sobre isso e tantas outras coisas. E agora tu tá ficando grande. A vida toda aí, na tua frente. Tanta vida na vida da gente. Falta aprender a tocar um instrumento. Andar de moto. Ir pra praia pedindo carona. E se apaixonar. E sentar no sol, sem protetor solar. Sem provas, sem raíz oleosa e pontas duplas. Com roupas de pijama. Do lado de cá. Que a música é boa e a gente vai dançar sem parar. Sem parar! ...
A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, é preciso transformar essa areia pontuda em uma esfera lisa que lhe tire as pontas. A pérola.