que resolveu morar na beira da estrada. ali eu onde eu passo todos os dias, despretensiosamente dirigindo. desligadamente pisando no acelerador. imensamente afundada nos incessantes pensamentos matinais. que parecem estourar feito milho virando pipoca na minha cabeça. um atrás do outro. saltando sem pedir licença, sem esperar na fila, sem aguardar o silencio apropriado. ainda bem que havia aquele Ipê amarelo. se não fosse pela sua majestosa e generosa beleza, meus olhos ainda estariam presos naquele transe - como se assoprassem um apito, feito inspetor escolar, tentando organizar a bagunça que os pensamentos fazem na minha cabeça. estariam ainda cegos para o caminho percorrido. como quando usamos óculos de sol para caminhar na praia em um dia com muita maresia. se gruda nas lentes uma especie de camada que não nos permite enxergar os detalhes, apenas uma imagem panorâmica da cena que está rolando. feito uma fotografia de alta resolução, pixelada na tela de uma televisã...
surgiu dando um rasante e cortando o azul do céu, como quem soubesse que uma fotografia estava por ser capturada. se convidou pra fazer parte do cenário belo pelo qual meus olhos já haviam se apaixonado. e assim ficou registrado o seu vôo. e assim deixou tudo mais bonito. como aquela pessoa que tu também está pensando agora. que de repente deu um rasante na tua paisagem, sem ter sido convidada. e que deixou mais belo o mundo que tu conhecia pelos teus olhos. que não precisou de convite nem de introdução, se aproximou como se estivesse seguindo uma corda que havia sido içada por um anjo para aproximar. e dançou no teu céu, e te fez dançar também. sabe essa pessoa? eu chamava de sorte. hoje chamo de merecimento - de ter e de ser. pérola de hoje: Coastline - Hollow Coves